A vida: mistério diante do Mistério
“Enorme dificuldade foi criada para todos os homens,
pesado jugo para os filhos de Adão,
desde o dia em que saíram do ventre materno,
até o dia em que voltarem para a mãe comum” (Eclo 40,1).
Parecem tão negativas estas palavras da Escritura.
Não o são; são realistas.
Nosso mundo atual tende a mascarar os problemas e, sobretudo, o fato de que a vida é um mistério: nela há a dor, a lágrima, a solidão, o fracasso, o medo, a morte...
Hoje, quanto não suportam pensar nisso; não suportam sequer recordá-lo...
Desesperar-se-iam se tivessem de enfrentar realmente o sentido da existência...
Mais fácil, então, fixar-se somente nas coisas superficiais, nas alegrias efêmeras, nos objetivos imediatos e presos simplesmente a este mundo que passa.
E, no entanto, não se pode negar o mistério da existência e tanto menos que caminhamos para a morte...
O homem de fé não teme meditar sobre o negativo, o obscuro, o enigmático da existência. Ele percebe por trás de tudo um Mistério, uma Presença, um Desígnio. Ele sabe que está nas mãos de um Deus que não somente é poderoso e providente, mas, antes de tudo, é amoroso. Por isso, o homem de fé – fé madura, curtida, profunda – sabe saborear bem o positivo e a beleza da vida sem, no entanto, mascarar a existência ou esquecer o que negativo nela encontra. O homem de fé sabe que a vida é um mistério que somente se ilumina à luz do Mistério de Deus.
Por isso, o Eclesiástico, depois da palavra aparentemente tão negativa, diz, nos versículos 26-27:
“Riqueza e força engrandecem o coração;
melhor do que ambas é o temor do Senhor.
No temor do Senhor nada falta,
com ele não é preciso buscar outra ajuda.
o temor do Senhor é um paraíso de bênçãos,
melhor do que qualquer glória ele protege”.